Fernando Vasconcelos
Opinião
Por ocasião do lançamento do meu livro na cidade de Pedra Lavrada, minha terra natal, tomei conhecimento de um outro livro, também lançado ali no dia 01/02/2020, tendo como autora uma jovem historiadora lavradense, Maria Aline Souza Guedes. O título do livro é bem interessante e teve como base sua Dissertação de Mestrado, apresentada na UFCG em 2018: “Se eu nascesse mil vezes, mil vezes casaria com Elenita”. A obra retrata a história de vida da professora Maria Elenita de Vasconcelos, nascida em Pedra Lavrada-PB, em 1944 e falecida em 984. A pesquisa feita pela autora teve início com o seu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) em História, foi a mesma orientada pelo professor Iranilson Buriti, autor também do Posfácio da presente obra. De tão elogiado, o trabalho virou dissertação de Mestrado, orientado pela professora Regina Coelli, prefaciadora do livro.
Como se observa no prefácio da filha mais velha da homenageada, Andrea Vasconcelos Carvalho, professora da UFRN e, no decorrer dos primeiros capítulos, o livro tem como protagonista uma mulher especial, chamada Maria Elenita, que nasceu no interior da Paraíba e no seio de uma tradicional família nordestina. Elenita se dedicou aos estudos e, posteriormente, ao exercício da docência. Foi professora do ensino fundamental e médio, diretora de escola. Para a prefaciadora, “redigir o prefácio de um livro que reflete sobre a história de vida de minha mãe, falecida quando eu era ainda uma criança, não foi uma tarefa fácil. Não faltaram ideias, foram muitas as inspirações. Entretanto, adiei, por semanas e meses, a imersão na alquimia de sentimentos de amor, admiração e saudade que a lembrança de Mainha me inspira”.
Como primo e afilhado de Elenita, revivi minha infância na introdução e no primeiro capítulo. A autora, Aline Guedes, apesar de historiadora, narra os fatos com paixão e lirismo, apresentando fatos da curta vida da professora, mãe de três filhas e que se sobressaiu como uma pessoa acima dos acontecimentos da própria época. Aline interpreta com emoção os sentimentos de Elenita e de toda a família, construindo uma história rica em acontecimentos e sentimentos. Transpira do livro um amor difícil de ser encontrado na atualidade.
Mesmo quem não a conhecesse, ao ler o livro, o leitor conhecerá a história de Elenita “a partir de uma narrativa que conecta as falas de personagens marcantes em sua vida (irmãos, amigos, filhas), com registros fotográficos de momentos significativos e com documentos variados. A escrita, poética em alguns momentos, foi tecida com cuidado, respeito e empatia. Nela, a autora apresenta fatos e agrega elucubrações que abrem uma janela a partir da qual o leitor pode “ver” Elenita, partilhar de sua vida, de suas alegrias, de suas dores, de seus afetos e de suas angústias. Neste livro, Elenita vive e morre, celebra e chora. Neste livro, quem a conheceu, mata as saudades e também pode se surpreender com alguma faceta até então desconhecida. Quem não teve esta oportunidade, pode se inspirar com uma história de vida comum e incomum ao mesmo tempo”.
O livro é composto por 49 figuras, representando fotos de familiares, da homenageada, de amigos e de vários logradouros da cidade. Além de Andréa, Kilma Medeiros e Érika Carvalho, também filhas de Elenita e Iedo Carvalho, além de vários irmãos e primos da professora, foram longamente entrevistados para que a autora conseguisse pintar um retrato o mais real possível. E, para que os leitores não ponham dúvida sobre o título: “Se eu nascesse mil vezes, mil vezes casaria com Elenita”, era a frase preferida do pai das três filhas acima mencionadas, promessa que ele cumpriu até o seu falecimento, em 2014.
Um dos documentos mais emblemáticos e importantes para a feitura deste livro é uma carta familiar, grafada pela intimidade e singeleza da professora Elenita, através da qual Aline registra momentos de uma personagem que, enquanto viveu, investiu seu tempo e seu trabalho em prol da família e do corpo educacional no qual estava inserida. A carta de Elenita, de 1984, parece um testamento, como forma de expressar sua vontade em seus últimos dias de vida. Doou, como disse a autora, “seus dias de existência a cuidar de vidas, a adocicar, com o mel do saber, os sujeitos lavradenses”.
Por Fernando Vasconcelos
Em 07 de Abril de 2020
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