Durante o último Carnaval (fevereiro de 2020) foi realizado em Ipuarana, mais precisamente no antigo Seminário Franciscano de Santo Antônio, mais um Encontro de ex-alunos para comemorar os 80 anos daquela instituição. E um dos pontos altos do Encontro foi o lançamento de três livros, tendo como autores Manoel Alves de Sousa, este articulista e José Clotario Dantas de Moraes. O livro de Clotario, “Ipuarana: herança franciscana”, ocupará os nossos comentários da coluna de hoje.
Quase todos nós, que tivemos a felicidade de estudar no importante Seminário, consideramos ser portadores de um pouco dos ensinamentos de Francisco. E o autor dessa obra bem o demonstra. O livro mistura reminiscências da sua terra natal Mauriti, no Ceará com “lembranças inesquecíveis” da infância e da adolescência. Traça um panorama da vida no Seminário nas décadas de 1950 e 1960 sem pieguismo ou saudosismo barato. Clotário mistura lembranças com costumes da época, com os ensinamentos do latim, do francês e do grego, com a importância da missa diária, do Advento e da Semana Santa.
Enquanto eu estudei cinco anos em Ipuarana, Clotário passou sete, além do período do Noviciado no Convento de Sirinhaém, em Pernambuco. E aproveita para, junto com as reminiscências, filosofar um pouco sobre a educação completa que os seminaristas recebiam, incluindo a esportiva e a musical. Nas viagens que empreendeu com a família e amigos, o autor procura sempre fazer um paralelo com a vida franciscana, comentando as relações da vida europeia da época com o que acontecia nos anos 2000 em Roma, Milão, Assis ou Bardel, na Alemanha.
Outra retrospectiva importante de “Herança Franciscana” é o relato que o autor faz dos Encontros com a turma de ex-alunos. Nós temos colegas espalhados pelo Brasil inteiro, do Pará a São Paulo e, periodicamente são organizados encontros regionais e, de cinco em cinco anos, o Encontro Nacional, como esse que aconteceu no último Carnaval. Mas, o autor relata encontros em Santarém, Belém, Recife, Salvador, Aracaju, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, afora todos os eventos importantes na própria Ipuarana.
PASSAGENS IMPORTANTES
Quero destacar, aqui, algumas passagens importantes do livro, tanto do ponto de vista literário, como do humorístico. Um exemplo foi quando, ao sair de Sirinhaém para Olinda, a fim de completar os estudos de filosofia, o então noviço Clotario deparou-se com uma foto 3 x 4 de uma garota de aproximadamente 20 anos, guardada numa antiga Revista Reader´s Digest. Essa foto mudou o seu rumo ao chegar ao padre-mestre e dizer: “Quero casar”. A partir daí a Província Franciscana perdeu um grande frade!
Formado em Direito, mas, filho de comerciante, o autor optou por trabalhar na iniciativa privada, tendo prestado mais de quarenta anos a empresas privadas, boa parte deles na Marcosa, que tinha filial aqui em João Pessoa. Quando se aposentou, em 2004, prometeu a si mesmo e à família que não “daria mais um dia de serviço” para ninguém. E aí foi aproveitar a vida em viagens internacionais, dedicação à família e ao Ipuarana Clube de Fortaleza, entidade que reúne ex-alunos franciscanos e familiares.
Clotario Dantas é um filósofo por natureza, apelidado pelos colegas de “cardeal”, pois é bom na música, nos discursos, no papo e nas rodas de cachaça. Até para relembrar seus aniversários, filosofa, como quando comenta os seus “sessenta” e os “setenta”. Enaltece os superiores, relembra os amigos, as freiras alemãs, os irmãos leigos (frades sem formação completa) e termina o livro com um “pleito de gratidão” à Província Franciscana. Homenageia frades alemães, os fundadores de Ipuarana e todos aqueles que tiveram participação direta ou indireta na sua trajetória. Um livro bem escrito e para merecer registro nos compêndios historiográficos deste país!
Por Fernando Vasconcelos
Em 06 de maio de 2020
Deixe um comentário