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Fernando Vasconcelos: Sivuca e a Botânica

Fernando Vasconcelos
João Pessoa

 

Nasci na cidade de Pedra Lavrada, localizada no Curimataú paraibano e, aos onze anos de idade, integrava a Filarmônica Eugênio Vasconcelos, tendo aprendido música desde essa época. Durante os anos 1963 a 1967, integrei também a banda e a orquestra sinfônica do Seminário de Ipuarana. Tocava em festas privadas, carnavais e festas de rua. Em Ipuarana, juntamente com vários colegas, fundamos um conjunto musical denominado “Os Feras”. Ensaiei, também, composição musical em parceria, participando de vários eventos ligados a festivais, tendo vencido um deles com a música “Nego de carnaval”.

A música sempre esteve presente em minha vida e permanece até hoje. Quando cheguei a João Pessoa, procurei a Filarmônica 5 de Agosto (da prefeitura municipal) e fui aceito de imediato. Participei, também, de noitadas no bar Boiadeiro, em Tambaú, do saudoso Bento da Gama. Algumas vezes, estava acompanhado dos compositores Luiz Ramalho e Vital Farias. Só parei de agitar na área musical, quando vendi o violão e doei o trompete ao curso de Música da UFPB. Foi por essa época que conheci Sivuca. Confesso que o seu biótipo não me agradou de imediato! Mas, Quando começou a dedilhar a sanfona, foi um “Deus nos acuda”!

Uma das músicas dele e de Glorinha Gadelha que mais me marcou foi “Feira de Mangaio”. Os leitores deste jornal devem saber que esse é um tipo de feira muito comum no Nordeste do Brasil, onde se vende uma grande variedade de objetos e mercadorias para as mais diversas finalidades. Ou, na expressão comum dos interioranos: “vende-se de tudo. ” E mangaieiro é o nome que se dá ao dono da barraca da Feira de Mangaio. E foi aí que Severino Dias de Oliveira começou a tocar sanfona, aos nove anos de idade, principalmente em feiras e festas populares.

Na “Feira de Mangaio” de Sivuca vende-se fumo de rolo, arreio de cangalha, bolo de milho, broa e cocada. Tem também pé de moleque, alecrim, canela e a famosa “feira dos pássaros”, tão comum em qualquer feira interiorana. Aí o compositor se lembra da “vendinha no canto da rua”, onde o mangaieiro ia se animar, tomando uma bicada de cachaça com lambú assado. Bateu agora saudades do meu tempo de estudante nas feiras de Pedra Lavrada, Picuí e Cubati!

Mas na feira de Sivuca também se vende: cabresto de cavalo e rabichola, farinha, rapadura e graviola, pavio de candeeiro, panela de barro, alpargata de arrasto e um sanfoneiro no canto da rua. E o sanfoneiro fazia o que Sivuca passou a ensinar depois: “uma melodia cheia de floreio para a gente dançar”. Ele não esqueceu a mulher rendeira, pois tinha “Zefa de Purcina fazendo renda e o ronco do fole sem parar”.
Pesquisando, descobri que a música Feira de Mangaio foi objeto de estudos no Congreso Latinoamericano de Botánica, concomitantemente ao LXV Congresso Nacional de Botânica e ao XXXIV ERBOT – Encontro Regional de Botânicos. O tema central do evento foi: “Botânica na América Latina: Conhecimento, Interação e Difusão – Ensinando Botânica a partir da música Feira de Mangaio, de Sivuca e Glorinha Gadelha (1979). O evento ocorreu entre 18 e 24 de outubro de 2014, em Salvador, capital da Bahia.

Na opinião de um dos expositores do evento, Lucas de Esquivel Dias, “a música Feira de Mangaio, um baião/forró composto por Severino Dias de Oliveira e considerado um clássico da música nordestina, apresenta os produtos que são comercializados pelos mangaieiros nas feiras livres, que podem ser entendidas como verdadeiros celeiros culturais.

Evidencia, ainda, as manifestações artísticas que compõem o modo de vida das pessoas que transitam por estas feiras. Nas disciplinas de Ciências e de Biologia verificamos que é muito pouco comum o professor utilizar-se de músicas como estratégias para ensinar, especialmente os conteúdos da área de Botânica.

Foi desenvolvida uma atividade que pode ser trabalhada na disciplina Ciências, para as séries finais do Ensino Fundamental, e também em Biologia, para o Ensino Médio, contendo onze questões sobre a música Feira de Mangaio. Recomenda-se que o professor possa trabalhar com os alunos a associação entre as culturas fumageira e tabagista e a saúde humana, aprendam e discutam o significado das diferentes expressões usadas no interior do nordeste, entendendo a importância das feiras de mangaio para o sustento das famílias nordestinas, entre outros aspectos retratados pela riquíssima letra da música”.
Precisa dizer mais alguma coisa?

Dr. Fernando Vasconcelos é : Colunista da Rede Seridó Paraíba, jornalista, escritor e consultor jurídico. Além de Professor e Promotor de Justiça aposentado. Foto: Divulgação

Por Fernando Vasconcelos
Em 27 de maio de 2020

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