Fernando Vasconcelos
Opinião
Há cerca de um ano escrevi crônica aqui neste local com o título “O Facebook e os desconectados”. E perguntava: “Você, leitor, é usuário do Facebook ou está, no momento, desconectado? Nem pense agora no Instagram, Twitter, Linkedin ou outros. Vamos deixar de lado o WhatsApp, que hoje é quase uma religião. Se você se desconectou do Facebook, prepare-se: os resultados serão imediatos! A princípio podem aparecer sinais de depressão, mas, com certeza, outros resultados melhores poderão aparecer, a exemplo de: maior tempo com amigos e familiares e mudança no humor”
Passei alguns anos utilizando o Face, mas, depois, desconectei. Há cerca de dois meses, quando estava ultimando a edição do meu livro “Missão cumprida: história de minha vida”, minha filha Fernanda perguntou: – E o senhor vai lançar um livro sem o Face nem o Instagram? Indaguei: – E é necessário mesmo? – Claro, disse ela. Como é que o senhor vai divulgar a história de sua vida entre os seus milhares de ex-alunos, seus parentes e amigos de infância?
Capitulei! Hoje, sou um usuário contumaz das duas redes. Ainda tateando com os muitos ícones e teclas do smartphone, confundindo nuances das duas plataformas, mas, quando um dos filhos jogou na Rede a notícia do livro, fiquei perplexo: surgiram os amigos de infância e parentes em São Paulo, Goiás, Campina Grande etc. Ex-alunos e orientandos pipocaram de Manaus, Brasília, Teresina, Recife, Campina Grande. Confesso que fiquei atordoado e recorri até aos meus netos.
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INVEJA E DEPRESSÃO
Quero tranquilizar os meus poucos leitores que essas duas pragas não me atingiram ainda. Mas, estão muito presentes entre os usuários das Redes Sociais. Estudos apontam que “depressão e inveja aparecem na hora de se entrar no Instagram alheio”. Uma professora confessou, na entrevista, que inveja mulheres com “autoestima elevada”: “Eu me sinto miserável quando entro no Instagram e Facebook. Fico deprimida e me consumindo de inveja das mulheres que têm autoestima elevada. Será que só eu tenho uma autoestima de merda?”.
Uma estudante de pedagogia disse que sente inveja porque possui “zero autoestima”: “Invejo uma amiga que é alegre, simpática, carismática, tem autoestima de sobra. Eu sou sem graça, sem carisma. Tenho zero autoestima.” Chama atenção a recorrência da ideia de autoestima no discurso feminino sobre inveja. As pesquisadas afirmaram que invejam mulheres com autoestima de sobra. Elas disseram que o principal motivo de sentirem inveja é a sua falta de autoestima.
A jornalista Mirian Goldenberg, antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio, autora de “A Bela Velhice”, relatou na Folha: “Para uma atriz de 56 anos, a ideia de autoestima foi inventada só para acabar com a autoestima da gente. Acho melhor autoconfiança, segurança interior, ideias mais claras para o que a gente sente. Autoestima é uma palavra que todo mundo usa e não significa muito, igual a estresse e virose. Por que você não veio trabalhar? Virose. Por que você não quer transar? Estresse. Por que você não se separa desse cafajeste? Não tenho autoestima. Por que não usa biquíni na praia? Minha autoestima é uma merda. Eu odeio a ideia de autoestima!”.
E concluiu: “é normal sentir inveja do que falta em nossas vidas”. Como estudo os fenômenos da Internet desde o ano 2000, quando elaborei uma tese de doutorado sobre o tema, fico observando alguns comportamentos no Facebook e no Instagram. Pelas fotos, pelos memes, pelos cardápios caros e sofisticados que são postados, observa-se que, se aquela pessoa frequenta todos aqueles lugares é porque tem um padrão de vida de médio para cima. Talvez, por isso, as pessoas apareçam tão alegres nas fotos. Eu mesmo estou muito satisfeito: em dois meses recebi mais parabéns do que em toda a minha vida! Meus amigos de infância ressuscitaram! Lugares que estavam guardados num cantinho da memória vieram à tona! E, termino com a frase do meu amigo Paulo, mistura de filósofo com poeta:
“Eu acredito que o altruísmo é o melhor caminho para o aumento da autoestima e da felicidade. Excesso de autoestima pode também ser prejudicial e convencer as pessoas que elas são melhores do que realmente são. A nossa preocupação maior deve ser com o caráter que produz integridade, reconhecimento e respeito. Por outro lado, preocupar em demasia com a imagem nos faz comprar coisas que não precisamos, com dinheiro que não temos, para impressionar gente que não dá a mínima para a nossa existência”.
E viva o Instagram!
Por Fernando Vasconcelos
Em 20 de Abril de 2020
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