Padre Rômulo Remígio Viana
Um certo dia alguém me perguntou o seguinte: o senhor associa a palavra política a qual significado? Imaginei logo aonde desejava chegar tal pessoa e pedi de imediato a luz do Santo Espírito de Deus para uma resposta adequada.
Lembrei-me do que tinha aprendido do Beato Paulo VI, texto que pode ser encontrado no documento Octogesima Adveniens, nº 26. A atividade política é autêntica expressão da caridade, “uma maneira exigente de viver o compromisso cristão, ao serviço dos outros”.
Sendo assim, a política não é nada demoníaca, nem algo ruim. Essa mensagem de que a política se trata de coisa que não é boa, deve vir de pelo menos duas possibilidades: a decepção diante do mal exemplo de algumas figuras públicas e por outro lado pelo interesse de certos grupos ideológicos que difundem o não-voto acerca de um outro tipo de sociedade baseada no caos ou na ditadura.
Na realidade é missão dos fiéis leigos, cidadãos que são, “participar pessoalmente na vida pública” e permear a sociedade de valores cristãos. Sobre esse assunto nos fala o Papa Bento XVI no documento Deus caritas est, número 28 quando diz que “promover a justa ordem do Estado e da sociedade” e que a justiça é o objetivo de toda política.
Só para ajudar a todo católico perceber que não há nada de mal em um cristão participar do mundo da política, ofereço o que nos ensina o Catecismo da Igreja: os cristãos assumem a atividade política como ‘caridade social’, em vista da justiça e do bem de todos (nº 1939).
Estes, os cristãos, devem viver animados pelo Espírito de Cristo, que veio ao mundo para servir e não ser servido (Mc 10,45).
Sendo assim, os cristãos leigos “não podem abdicar da participação na política, ou seja, da múltipla e variada ação econômica, social, legislativa, administrativa e cultural, destinada a promover orgânica e institucionalmente o bem comum” (Christifideles laici, nº 42), afirma São João Paulo II.
Na realidade que vivemos, torna-se urgente que tenhamos um olhar especial para a palavra Política, neste processo eleitoral que se avizinha, lembrando-nos da nossa grande responsabilidade – não de fazer voto em branco ou fugir do compromisso de votar – mas de escolher, criteriosamente, dignos representantes da população.
Um lembrete ainda se faz necessário: o voto não nos encerra na nossa missão de fazer política! Além do exercício democrático do voto, os cidadãos devem permanecer mobilizados e acompanhar o trabalho dos eleitos após as eleições, bem como participar de conselhos de políticas públicas, fóruns sociais e outros espaços de discussão, que ampliam a cidadania e aprofundam a experiência democrática.
Assim, de olhos atentos, acompanhando aqueles que colocamos no poder, faremos muito bem uns aos outros e à nação toda, na medida em que pelas possibilidades de participação popular no exercício da cidadania vigiamos ou acompanhamos o trabalho dos que nos representam. Olhos bem abertos e ligados na vida de cada candidato! Temos o apoio de leis que nasceram de projetos de iniciativa popular – Lei 9840/99, que combate a corrupção eleitoral, como a compra de votos e outras práticas abusivas, e na Lei Complementar no 135, de 04.06.2010, chamada popularmente de ‘Lei da Ficha Limpa’, que impede a candidatura de políticos condenados por crimes eleitorais.
Outra possibilidade de participação política na nossa sociedade brasileira é através do Grito dos Excluídos, manifestação popular organizada pela CNBB e por diversos movimentos sociais, que acontece geralmente a cada mês de setembro em vista da construção de uma sociedade justa e solidária, na qual a vida de todos seja respeitada e os direitos fundamentais garantidos.
Todos sabemos que a participação política, consciente, exige muito de qualquer cidadão que leve a sério sua vida cristã como sal e luz do mundo! Requer dedicação, muita paciência, e uma boa disponibilidade para refletir e analisar a realidade em que se vive olhando para o âmbito nacional e internacional. Exige-se também e sobretudo, a superação de interesses egoístas; afinal, política é justamente o cuidado da vida na pólis (cidade) e dos que nela convivem, sem nenhuma distinção, mas colocando-se o critério da justiça.
O mundo e cada localidade precisam de cristãos sal e luz dispostos intensificarem em seu ambiente a vivência da caridade política.
Rômulo Remígio Viana é Padre desde 1995, teve sua formação no Seminário Regional do Nordeste II – DEPA
Por Padre Rômulo Remígio Viana
22 de Junho de 2020
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